Notas ao café…

Uma armadilha

Posted in música ao café, palavras ao café by JN on Abril 16, 2011

“O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira, até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar?”

Miguel Esteves Cardoso, in «Último Volume»

Go To Sleep

Posted in música ao café, palavras ao café by JN on Abril 1, 2011

“Aspiro a um repouso absoluto e a uma noite contínua. Poeta das loucas voluptuosidades do vinho e do ópio, não tenho outra sede a não ser a de um licor desconhecido na Terra e que nem mesmo a farmacopeia celeste poderia proporcionar-me; um licor que não é feito nem de vitalidade, nem de morte, nem de excitação, nem de nada. Nada saber, nada ensinar, nada querer, nada sentir, dormir e sempre dormir, tal é actualmente a minha única aspiração. Aspiração infame e desanimadora, porém sincera.”

Charles Baudelaire, in «Projectos de prólogos para “Flores do Mal”»

O fenómeno guerra

Posted in palavras ao café by JN on Fevereiro 8, 2011

“Todos os esforços para estetizar a política convergem para um ponto. Esse ponto é a guerra. A guerra e somente a guerra permite dar um objectivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes. Eis como o fenómeno pode ser formulado do ponto de vista político. Do ponto de vista técnico, a sua formulação é a seguinte: somente a guerra permite mobilizar na sua totalidade os meios técnicos do presente, preservando as actuais relações de produção.”

Walter Benjamin, in «Magia e Técnica, Arte e Política»


Cardow, «The Ottawa Citizen»

Os bons livros…

Posted in palavras ao café by JN on Fevereiro 2, 2011

“All good books are alike in that they are truer than if they had really happened and after you are finished reading one you will feel that all that happened to you and afterwards it all belongs to you; the good and the bad, the ecstasy, the remorse, and sorrow, the people and the places and how the weather was. If you can get so that you can give that to people, then you are a writer.”

Ernest Hemingway, in «Old Newsman Writes: A Letter from Cuba” (Esquire, 1934)


“Ernest Hemingway”
Petar Pismestrovic, «Kleine Zeitung»

A liberdade…

Posted in palavras ao café by JN on Janeiro 31, 2011

“La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre; por la libertad así como por la honra se puede y debe aventurar la vida, y, por el contrario, el cautiverio es el mayor mal que puede venir a los hombres. Digo esto, Sancho, porque bien has visto el regalo, la abundancia que en este castillo que dejamos hemos tenido; pues en mitad de aquellos banquetes sazonados y de aquellas bebidas de nieve me parecía a mí que estaba metido entre las estrechezas de la hambre, porque no lo gozaba con la libertad que lo gozara si fueran míos, que las obligaciones de las recompensas de los beneficios y mercedes recebidas son ataduras que no dejan campear al ánimo libre. ¡Venturoso aquel a quien el cielo dio un pedazo de pan sin que le quede obligación de agradecerlo a otro que al mismo cielo!”

Miguel de Cervantes, in «El ingenioso caballero don Quijote de La Mancha», Capítulo LVIII


Emad Hajjaj

A terceira mão

Posted in música ao café, palavras ao café by JN on Janeiro 16, 2011

“No mundo rural, o canivete era o instrumento mais universal, acompanhando toda a vida quotidiana. Era a terceira mão, tão indispensável como as outras duas. Era tratado com todo o cuidado, evitando-se que fosse atingido pela ferrugem e cuidando do fio de corte, que não podia ter falhas ou rombos.
Pouco volume fazia nos bolsos dos camponeses, onde entrava de manhã, com o lenço e a onça de tabaco para os fumadores.”

João Serra, in «Crónicas dos anos 50/60»

A onça de tabaco foi substituída pelo maço de tabaco e os lenços até podem ser de papel, mas a navalha, a “palaçoula”, essa continua. De objecto de trabalho foi promovida a companheira de tertúlias e objecto de cozinha, etc. Mas continua por cá, como este blog tenta também continuar…

Tom Waits, in «Cold Cold Ground (Live)»

Vícios e paixões

Posted in palavras ao café by JN on Novembro 29, 2010

“Não há vício que se não esconda atrás de boas razões; a princípio, todos são aparentemente modestos e aceitáveis, só que a pouco e pouco vão-se expandindo. Não conseguirás pôr fim a um vício se deixares que ele se instale. Toda a paixão é ligeira de início; depois vai-se intensificando, e à medida que progride vai ganhando forças. É mais difícil libertarmo-nos de uma paixão do que impedir-lhe o acesso. Ninguém ignora que todas as paixões decorrem de uma tendência, por assim dizer, natural. A natureza confiou-nos a tarefa de cuidar de nós próprios, mas, se formos demasiado complacentes, o que era tendência torna-se vício. Aos actos necessários juntou a natureza o prazer, não para que fizéssemos deste a nossa finalidade mas apenas para nos tornar mais agradáveis aquelas coisas sem as quais é impossível a existência. Se o procuramos por si mesmo, caímos na libertinagem. Resistamos, portanto, às paixões quando elas se aproximam, já que, conforme disse, é mais fácil não as deixar entrar do que pô-las fora.”

Séneca, in «Cartas a Lucílio»


Andy Singer, «No Exit»

Ilusão

Posted in cinema ao café, palavras ao café by JN on Novembro 14, 2010

“Da infância à morte, a ilusão envolve-nos. Só vivemos por ela e só ela desejamos. Ilusões do amor, do ódio, da ambição, da glória, todas essas várias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantêm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.
As ilusões intelectuais são relativamente raras; as ilusões afectivas são quotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusões fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao eterno abismo. Não lamentemos que tão raramente sejam submetidas à análise.”

Gustave Le Bon, in «As Opiniões e as Crenças»

Retirado do filme “Morte em Veneza”, a obra-prima de Luchino Visconti que este filmou ao som de Gustav Mahler.

O verdadeiro carácter do homem

Posted in palavras ao café by JN on Novembro 9, 2010

“Na verdade, se nos fosse dado penetrar com os olhos da carne na consciência dos outros, julgaríamos com mais segurança um homem pelo que devaneia do que pelo que pensa. O pensamento é dominado pela vontade, o devaneio não. O devaneio, que é absolutamente espontâneo, toma e conserva, mesmo no gigantesco e no ideal, a figura do nosso espírito. Não há coisa que mais directa e profundamente saia da nossa alma do que as nossas aspirações irreflectidas e desmesuradas para os esplendores do destino. Nestas aspirações é que se pode descobrir o verdadeiro carácter de cada homem, melhor do que nas ideias compostas, coordenadas e discutidas. As nossas quimeras são o que melhor nos parece. Cada qual devaneia o incógnito e o impossível, conforme a sua natureza.”

Victor Hugo, in «Os Miseráveis»


Angel Boligan, «El Universal»

Intelectuais e as massas

Posted in palavras ao café by JN on Outubro 28, 2010

“Os intelectuais fazem a teoria, as massas a economia. Finalmente, os intelectuais utilizam as massas e através deles a teoria utiliza a economia. Por isso é-lhes necessário manter o estado de sítio e a servidão económica – para que as massas continuem a ser massas manobráveis. É bem certo que a economia constitui a matéria da história. As ideias contentam-se com conduzi-la.”

Albert Camus, in «Cadernos»


Frederick Deligne

O desperdício

Posted in palavras ao café by JN on Outubro 28, 2010

“Uma tentação imediata do nosso tempo é o desperdício. Não é só resultado duma invenção constante da oferta que leva ao apetite do consumo, como é, sobretudo, uma forma de aristocracia técnica. O tecnocrata, novo aristocrata da inteligência artificial, dos números e dos computadores, propõe uma sociedade de dissipação. Propõe-na na medida em que favorece os métodos de maior rendimento e a rapina dos recursos naturais. As hormonas que fazem crescer uma vitela em três meses, as árvores que dão fruto três vezes por ano, tudo obriga a natureza a render mais. Para quê? Para que os alimentos se amontoem nas lixeiras e os desperdícios de cozinha ou de vestuário sirvam afinal para descrever o bluff da produtividade.”

Agustina Bessa-Luís, in «Dicionário Imperfeito»


Angel Boligan, «El Universal»

Liberdade Humana

Posted in palavras ao café by JN on Outubro 11, 2010

“O problema da liberdade foi o que sempre mais me preocupou. Tento pôr ordem nas minhas ideias, mas não é fácil. Fui da esquerda e mesmo da sua direita (porque a direita da esquerda é a mais esquerda, como a direita da direita, a mais direita). Fui-o porque ela era a favor da liberdade humana e se parecia que era contra a liberdade humana, era só por defender a liberdade humana. Hoje sou contra a defesa da liberdade humana, porque sou a favor da liberdade humana. Esquerdas e direitas dizem-me que se eu sou contra a defesa da liberdade humana, por ser a favor da liberdade humana, sou realmente contra a liberdade humana e estou por isso fazendo o jogo de uns ou de outros, consoante aqueles que me acusam.
Ah, por favor, não me peçam explicações – sou homem, não sou político. Defendo a liberdade porque sou pela liberdade e por isso não devo defender a liberdade, porque para defender a liberdade teria de atacar a liberdade, o que me obrigaria então a defendê-la por ser a favor dela – merda! Sou pela liberdade, sou contra a opressão, e isto é simples, é humano, é evidente – disse! E não me chateiem mais.”

Vergílio Ferreira, in «Estrela Polar»


Dario Castillejos, «Dario La Crisis»

O melhor tempo…

Posted in palavras ao café by JN on Setembro 7, 2010

“It was the best of times, it was the worst of times; it ws the age of wisdom, it was the age of foolishness; it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity; it was the season of Light, it was the season of Darkness; it was the spring of hope, it was the winter of despair; we had everything before us, we had nothing before us; we were all going directly to Heaven, we were all going the other way.”

Charles Dickens, in «A Tale of Two Cities»


“Kids and the Internet”
Angel Boligan

Modas

Posted in palavras ao café by JN on Agosto 2, 2010

“As variações da sensibilidade sob a influência das modificações do meio, das necessidades, das preocupações, etc., criam um espírito público que varia de uma geração para outra e mesmo muitas vezes no espaço de uma geração. Esse espírito publico, rapidamente dilatado por contacto mental, determina o que se chama a moda. Ela é um possante factor de propagação da maior parte dos elementos da vida social, das nossas opiniões e das nossas crenças.
Não é só o vestuário que se submete às suas vontades. O teatro, a literatura, a política, a arte, as próprias ideias científicas obedecem-lhe, e é por isso que certas obras apresentam um fundo de semelhança que permite falar do estilo de uma época.
Em virtude da sua acção inconsciente, submetemo-nos à moda sem que o percebamos. Os espíritos mais independentes a ela não se podem subtrair. São muito raros os artistas, os escritores que ousam produzir uma obra muito diferente das ideias do dia.
A influência da moda é tão pujante que ela obriga-nos, por vezes, a admirar coisas sem interesse e que parecerão mesmo de uma fealdade extrema, alguns anos mais tarde. O que nos impressiona numa obra de arte é muito raramente a obra em si mesma, porém a ideia que os outros formam dela, e isso explica por que o seu valor comercial sofre enormes mudanças.
Vê-se, muitas vezes, a moda impor coisas inverossímeis e manifestar-se em coisas tão abstractas e, aliás, tão ilusórias, como a criação de uma língua, a reforma da ortografia, etc.”

Gustave Le Bon, in «As Opiniões e as Crenças»


Mr. Fish, «Clowncrack.com»

O importante no Homem

Posted in palavras ao café by JN on Julho 5, 2010

“Existem certas pessoas – e eu sou uma delas – que pensam que a coisa mais prática e importante acerca de um homem ainda é a sua visão do universo. Pensamos que, para uma senhoria considerando se deve aceitar um pensionista, é importante saber a sua renda, porém mais importante ainda é conhecer a sua filosofia. Pensamos que, para um general prestes a combater um inimigo, é importante saber os números do inimigo, porém mais importante é conhecer a filosofia do inimigo. Pensamos que a questão não é saber se a teoria do cosmos afecta ou não as coisas, mas se, no longo prazo, qualquer outra coisa as afecta.”

Gilbert Chesterton, in «Hereges»


Oguz Gurel (Turquia)

Gosto e aparência

Posted in fotografia ao café, palavras ao café by JN on Julho 2, 2010

“O nosso engenho todo se esforça em pôr as coisas numa perspectiva tal, que vistas de um certo modo, fiquem a parecer o que nós queremos que elas sejam, e não o que elas são. A razão é como um instrumento lisonjeiro, por meio do qual vemos as coisas, grandes, ou pequenas, falsas, ou verdadeiras. O nosso pensamento não se acomoda às coisas, acomoda-se ao nosso gosto. O amor, a vaidade, e o interesse são os moldes em que as coisas se formam, e se configuram para se apresentarem a nós; e com efeito nenhuma coisa se nos mostra como é, contra a nossa vontade.”

Matias Aires, in «Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna»


“O Vilão” — foto de Luis Sarmento

Aparências

Posted in palavras ao café by JN on Junho 30, 2010

“Nada influencia mais profundamente o sentir do homem do que a fatiota que o cobre. O mais ríspido profeta, se enverga uma casaca e ata ao pescoço um laço branco, tende logo a sentir os encantos dos decotes e da valsa; e o mais extraviado mundano, dentro de uma robe de chambre, sente apetites de serão doméstico e de carinhos ao fogão. Maior ainda se afirma a influência do vestuário sobre o pensar. Não é possível conceber um sistema filosófico com os pés entalados em escarpins de baile, e um jaquetão de veludo preto forrado a cetim azul leva inevitavelmente a ideias conservadoras.”

Eça de Queirós, in «Distrito de Évora»


Angel Boligan, «El Universal»

Relaxar

Posted in fotografia ao café, palavras ao café by JN on Junho 10, 2010

“O nosso espírito deve relaxar: ficará melhor e mais apto após um descanso. Tal como não devemos forçar um terreno agrícola fértil com uma produtividade ininterrupta que depressa o esgotaria, também o esforço constante esvaziará o nosso vigor mental, enquanto um curto período de repouso restaurará o nosso poder. O esforço continuado leva a um tipo de torpor mental e letargia.”

Séneca, in «Da Brevidade da Vida»


Foto de Zul-photo

Vantagens do trabalho…

Posted in palavras ao café by JN on Junho 8, 2010

“É difícil determinar se o trabalho deve ser colocado entres as causas da felicidade ou da infelicidade. É certo que há muitos trabalhos extraordinariamente aborrecidos e que o trabalho excessivo é sempre penoso. Penso, no entanto, que se não for excessivo, mesmo o trabalho mais monótono é para muitas pessoas preferível à ociosidade.
Há no trabalho, segundo a natureza da obra e a capacidade do trabalhador, todas as gradações, desde o simples alívio do tédio às satisfações mais profundas. Na maior parte dos casos, o trabalho que as pessoas têm de executar não é interessante, mas ainda em tais circunstâncias oferece grandes vantagens. Em primeiro lugar, preenche uma boa parte do dia sem haver necessidade de decidir sobre o que se há-de fazer. A maioria das pessoas, quando estão em condições de escolher livremente o emprego do seu tempo, têm dificuldade em encontrar o que quer que seja suficientemente agradável para as ocupar. E tudo o que decidam deixa-as atormentadas pela ideia de que qualquer outra coisa seria mais agradável.
Ser capaz de utilizar inteligentemente os momentos de lazer é o último degrau da civilização, mas presentemente muito poucas pessoas o atingiram. Além disso, a acção de escolher é fatigante. Excepto para os indivíduos dotados de extraordinário espírito de iniciativa, é muito cómodo ser-se informado do que se tem a fazer em cada hora do dia, desde que tais ordens não sejam desagradáveis em demasia.”

Bertrand Russell, in «A Conquista da Felicidade»


Frederick Deligne

Pensamentos perdidos

Posted in palavras ao café by JN on Junho 7, 2010

“É sabido que comboios completos de pensamento atravessam instantaneamente as nossas cabeças, na forma de certos sentimentos, sem tradução para a linguagem humana, menos ainda para uma linguagem literária… porque muitos dos nossos sentimentos, quando traduzidos numa linguagem simples, parecem completamente sem sentido. Essa é a razão pela qual eles nunca chegam a entrar no mundo, no entanto toda a gente os tem.”

Fiodor Dostoievski, in «Uma Anedota Sórdida»


Erlich, «El País»

Acção independente

Posted in palavras ao café by JN on Junho 5, 2010

“Durante a minha vida, fiz muitas coisas que não tinha decidido fazer, e não fiz outras que tinha firmemente decidido fazer. Algo que existe em mim, seja lá o que for, age; algo que me faz ir ter com uma mulher que já não quero voltar a ver, que faz ao superior um reparo que me pode custar o emprego, que continua a fumar embora eu tenha decidido deixar de fumar, e que deixa de fumar quando me resignei a ser um fumador para o resto dos meus dias.
Não quero dizer que o pensamento e a decisão não tenham alguma influência na acção. Mas a acção não decorre só do que foi pensado e decidido antes. Surge de uma fonte própria, e é tão independente como o meu pensamento e as minhas decisões.”

Bernhard Schlink, in «O Leitor»


Angel Boligan

Ideias vs. Palavras

Posted in palavras ao café by JN on Junho 4, 2010

“As nossas palavras giram em torno das nossas ideias porque não somos capazes de exprimir plenamente um pensamento por palavras, caso contrário o entendimento – pelo menos entre pessoas inteligentes – há muito estaria estabelecido. Mas os nossos pensamentos giram também em torno das nossas palavras, e é isso que é mais grave. Se tivéssemos a força, a coragem ou a possibilidade de pensar totalmente fora das palavras, estaríamos mais avançados do que o estamos agora.”

Arthur Schnitzler, in «Relações e Solidão»


Angel Boligan, «El Universal»

Novo argumento

Posted in palavras ao café by JN on Maio 25, 2010

“Advertising is the modern substitute for argument; its function is to make the worse appear the better.”

George Santayana


Andy Singer, «No Exit»

O grande educador…

Posted in notas ao café, palavras ao café by JN on Maio 19, 2010

“O grande educador não pensa na escola pela escola, como o grande artista não aceita a arte pela arte; é incapaz de se encerrar na relativa estreiteza de uma vida de ensino; a escola, de tudo o que lhe oferecia o universo, é apenas o ponto a que dedicou maior interesse; mas é-lhe impossível furtar-se a mais larga actividade. De outro modo: trabalha com ideias gerais; não dirá que esta escola é o seu mundo, mas que esta escola é parte indispensável do seu mundo.”

Agostinho da Silva, in «Considerações»

Um vídeo da SMARTloveoflearning.com para promover a eleição do melhor professor do mundo:

[Via: BuzzFeed]

Guerra e Paz

Posted in palavras ao café by JN on Maio 18, 2010

“Na vida de cada homem há dois aspectos: a vida pessoal, tanto mais livre quanto mais restritos são os seus interesses, e a vida geral, social, em que o homem obedece inevitavelmente a leis prescritas.
O homem vive constantemente para si próprio, mas serve de instrumento inconsciente aos fins históricos da humanidade. O acto realizado é imparável e, concordando, no tempo, com milhões de actos realizados por outros homens, adquire a sua importância histórica.”

Leon Tolstói, in «Guerra e Paz»


“War and Peace”
Dario, «Cagle Cartoons»

Um meio de conhecimento

Posted in palavras ao café by JN on Maio 13, 2010

“Não, a vida não me desapontou! Pelo contrário, todos os anos a acho melhor, mais desejável, mais misteriosa… desde o dia em que vejo a mim a grande libertadora, a ideia de que a vida podia ser experiência para aqueles que procuram saber, e não dever, fatalidade, duplicidade!… Quanto ao próprio conhecimento, seja ele para outros aquilo que quiser, um leito de repouso, ou o caminho para um leito de repouso, ou distracção ou vagabundagem, para mim é um mundo de perigos, é um universo de vitórias onde os sentimentos heróicos têm a sua sala de baile. «A vida é um meio de conhecimento»; quando se tem este princípio no coração, pode viver-se não somente corajoso mas feliz, pode-se rir alegremente! E quem, de resto, se ouvirá, portanto, a bem rir e a bem viver se não for primeiramente capaz de vencer e de guerrear?”

Friedrich Nietzsche, in «A Gaia Ciência»


Oguz Gurel

Ciclos…

Posted in palavras ao café by JN on Maio 12, 2010

“De quanta imaginação não é feita uma vida para se compensar o que se não realizou! Já todos o sabemos e nunca ninguém o sabe. Se fosse coisa de se saber, não havia maníacos da droga, do fumo ou do álcool. Projecta-se milimetricamente uma reacção a ter, uma ofensa a vingar, uma desconsideração a menosprezar, uma conquista a fazer. E sai sempre outra coisa: nem nos vingamos porque se interpôs uma fraqueza, nem menosprezámos a desconsideração porque nos menosprezaram o nosso menosprezo, nem conquistámos nada porque amanhã é que é. Mas falhada a nossa reacção, logo congeminamos de novo efectivá-la e com acréscimo de efeito. Até que o tempo e a morte tudo decidam irremediavelmente por nós. E acabamos por achar que decidiu bem, porque o mais fácil de resolver é sempre o não resolver.”

Vergílio Ferreira, in «Conta-Corrente 3»


Andy Singer, «No Exit»

Publicidade & Democracia

Posted in palavras ao café by JN on Maio 11, 2010

“Advertising is of the very essence of democracy. An election goes on every minute of the business day across the counters of hundreds of thousands of stores and shops where the customers state their preferences and determine which manufacturer and which product shall be the leader today, and which shall lead tomorrow.”

Bruce Barton (1955), Presidente da BBDO, citado por James B. Simpson, in «Contemporary Quotations»


Gurbuz Dogan Eksioglu (Turquia)

O tédio

Posted in palavras ao café by JN on Maio 6, 2010

“Com respeito à natureza do tédio encontram-se frequentemente conceitos erróneos. Crê-se em geral que a novidade e o carácter interessante do seu conteúdo “fazem passar” o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos “aborrecidos”; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só; e numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos.”

Thomas Mann, in «A Montanha Mágica»


Shannon Wheeler, «Too Much Coffee Man!»

Uma rejeição triunfante

Posted in palavras ao café by JN on Abril 30, 2010

“A música é uma rejeição triunfante do mundo em que nascemos, um «não» à natureza, um corajoso desafio a Deus e aos deuses e a toda a espécie de poderes não-humanos dos quais se pensa que moldaram o cosmos; é um mundo rival feito pelo homem.”

Walter Kaufmann, in «A Vida nos seus Limites»


“Musick”
Mr. Fish, «The Atlantic»